quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O caso do cachorro na Delegacia

O caso do cachorrinho rendeu...

Esse é um dos inúmeros episódios que vivi nos meus tempos de Delegacia, e, depois daquele do casamento, acho que é o melhor. Tenho que omitir os nomes porque todos vivem aqui na cidade e o fato não é tão antigo assim. Se alguém se reconhecer no caso e quiser incrementar...
Estávamos nós num típico dia de expediente de Delegacia quando de repente vem uma fuzaca lá da portaria e vejo uma colega de trabalho meio que se atracando com um rapaz com um cachorrinho no colo. O nosso chefe e alguns agentes entraram no meio pra acalmar os ânimos e as coisas começaram a se elucidar.
Foi uma fuzaca daquelas na portaria

Minha colega disse que na casa do primo dela fugiu um cachorrinho daquele e que em Monlevade só existia um exemplar daquela raça, pois ele teve que buscar fora, e, o rapaz apareceu na Delegacia pra pedir informação justamente com o bendito cachorrinho no colo.
O rapaz, por sua vez, disse que estava em sua casa, tranquilamente quando o cachorrinho chegou lá magrinho, com fome e sede, aí os filhos dele pediram pra ficar com o bichinho e ele não teve como negar porque era bonitinho mesmo, chegaram até a dar nome ao cachorrinho.
nosso chefe teve que ser enérgico

O suposto dono do cachorro foi chamado imediatamente e se apresentou do Delegado com diversas fotos do bichinho em sua casa, inclusive uma do filhinho dele junto, o que comoveu todo mundo. Ao passo que o outro suposto dono se agarrava ao bichinho e dizia que estava cuidando dele já há quatro meses e a família se afeiçoou a ele.
Então, nosso chefe, não querendo ser injusto, fez a seguinte proposta: fica cada um de um lado do corredor chamando o cachorro, e, fica com ele o que for atendido. Proposta aceita, vai cada um pra uma ponta do corredor, todos dois seguros que serão atendidos, mas era necessária uma pessoa neutra, momento em que meu chefe ordena:
_ Andréa, pegue o cachorrinho e coloque no chão na hora em que eu mandar!
eu tive que segurar o cachorrinho no colo

Atendi prontamente e segurei o cachorrinho, que era realmente uma gracinha, até a hora em que os donos estavam devidamente posicionados e o chefe deu o sinal para que eu o colocasse no chão.
Nessa hora ninguém mais trabalhava na Delegacia, todo mundo queria saber do desfecho do caso do cachorro, e, inclusive tinha cobertura jornalística. Havia um rapaz, estudante de jornalismo, que dava flashes ao vivo pra rádio em que ele trabalhava. Uma loucura.
foi uma confusão pra cercar o rapaz na saída

Os donos, um em cada ponta do corredor, chamando o bichinho pelo nome que tinha em sua casa, fazendo gracinhas, assoviando, batendo palmas. Mas, ele não quis ir com nenhum dos dois, ficou no meio do corredor tremendo de medo coitadinho. 
o cachorrinho ficou indeciso

Meu chefe coçou o queixo pensativo, mas, o rapaz que chegou com o cachorro na Delegacia foi mais rápido: correu e pegou o cachorro no colo, dizendo que era dele. Foi uma correria, minha colega gritando, o primo dela correndo atrás do rapaz e os agentes cercaram o “elemento”. Acho que isso foi decisivo, nosso chefe falou de pronto:
_ O rapaz aqui trouxe provas de que o cachorro é dele e vai levar pra casa, podem tirar e dar pra ele.
a palavra final coube ao chefe

Gente, foi preciso uns três agentes pra retirarem o cachorrinho do colo do rapaz que gritava:
_ Não!!! O que eu vou dizer lá em casa? Os meninos vão chorar, minha mulher vai me matar...
E as lágrimas desciam igual de criança, vocês não acreditam, um marmanjão chorando por causa do cachorro. Ficou todo mundo com dó, aí o dono do cachorro disse a ele que quando tivesse filhote, um seria dele, já estava prometido. O rapaz aceitou, não tinha outro jeito. E saiu da Delegacia soluçando e secando as lágrimas...
E assim termina o caso do cachorro. Eu juro que é verdade!!!