sexta-feira, 16 de maio de 2014

Era uma vez, Aracelli...


Todas as histórias que eu conto aqui são verídicas e eu sou a protagonista, mesmo que as vezes subjetivamente. A história que eu vou contar hoje é verídica também, porém, não sou a protagonista, mas poderia ter sido eu, você, seus filhos ou qualquer um.
Era uma vez, em Vitória/ES, uma menina de oito anos chamada Aracelli, uma criança como qualquer outra, que estudava, gostava de correr, brincar, mas, com um diferencial: sua beleza. Aracelli era muito bonita e seu corpo era “de menina-moça”, como disse sua professora à época dos fatos. Sua beleza acentuada chamava a atenção de todos e despertou a cobiça de dois adultos.

Esses rapazes eram conhecidos playboys da cidade, filhos de famílias abastadas, possuíam carros da moda e viviam a vida intensamente, como se não houvesse amanhã. Também eram muito bonitos e simpáticos na época, sempre acompanhados de belas mulheres na noite capixaba.
Os rapazes começaram a se aproximar de Aracelli na porta de sua escola, fazendo amizade, oferecendo presentes, até conquistar a simpatia e confiança da menina.
Um dia, 18 de maio de 1973, a mãe de Aracelli enviou um bilhete à escola pedindo que autorizasse a saída de sua filha antes do horário normal, e, a diretora, conhecendo a pessoa, acatou o pedido e deixou que a menina saísse mais cedo. Aracelli saiu e sentou-se em uma lanchonete próxima ao ponto de ônibus, para aguardar seu transporte passar.
Um dos rapazes parou seu carro em frente  a lanchonete e chamou Aracelli, dizendo a ela para “ir no carro do tio”, que ele levaria a menina em casa. A menina, que já o conhecia e confiava nele, entrou no carro, pois afinal era uma “tio legal que lhe dava presentes”. Foi a última vez que ela foi vista com vida.
Seu corpo foi encontrado, dias depois, em um matagal, com marcas de espancamento, mordidas, violência sexual, e, ácido.Testemunhas contaram que no dia 18 de maio Aracelli foi vista, ainda com vida, tomando um sorvete no restaurante de propriedade do “tio” que a buscou na escola, afinal tratava-se de um lugar badalado na época, que, inclusive, saía nas colunas sociais.
Outra testemunha informou que a menina estava sendo mantida no sótão do restaurante, e, que era “visitada” pelos dois rapazes que se aproximaram dela.
Uma outra testemunha afirmou que foi procurada pelos rapazes, que estavam com a menina no carro, e pediram sua ajuda para leva-la ao hospital, pois, segundo os mesmos, “fizeram besteira”. Ainda segundo esta testemunha, a menina já estava morta e não havia mais o que fazer.
Diante de todo o alarde, os rapazes foram indiciados pela polícia e levados a julgamento.  Houve uma comoção social muito grande na época, com pessoas na rua pedindo justiça, dentro do possível, pois ainda estávamos na ditadura militar.
O final dessa história?
Algumas testemunhas mudaram o depoimento, afirmando “não terem visto e não saberem de nada”, e, outras “apareceram mortas” como que por mágica.
Os rapazes?
Foram absolvidos por falta de provas e continuaram suas tranquilas vidas de filhos de grandes empresários e playboys da cidade.
A família de Aracelli?
Perdeu sua filha e nunca mais puderam ver seu sorriso, ouvir sua voz e vê-la crescendo.
A história é chocante?
Sim, e muito. Mas que sirva de alerta para todos nós que amamos crianças e adolescentes, mesmo que não sejam de nossa família, pois, criminosos também são bonitos e simpáticos.
No ano de 2000 o Governo Federal instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Infantil e escolheu o dia 18 de maio para marcar a data, como uma menção ao “Caso Aracelli”, para que casos como esse não aconteçam mais.


Apesar de ter sido preciso a criação de uma data especial para a campanha, o combate ao abuso e exploração sexual deve ser todo dia, observando, denunciando, pois, como eu disse no início, poderia ter sido com qualquer um de nós.