O caso do cachorrinho rendeu... |
Esse
é um dos inúmeros episódios que vivi nos meus tempos de Delegacia, e, depois
daquele do casamento, acho que é o melhor. Tenho que omitir os nomes porque
todos vivem aqui na cidade e o fato não é tão antigo assim. Se alguém se
reconhecer no caso e quiser incrementar...
Estávamos
nós num típico dia de expediente de Delegacia quando de repente vem uma fuzaca
lá da portaria e vejo uma colega de trabalho meio que se atracando com um rapaz
com um cachorrinho no colo. O nosso chefe e alguns agentes entraram no meio pra
acalmar os ânimos e as coisas começaram a se elucidar.
Foi uma fuzaca daquelas na portaria |
Minha
colega disse que na casa do primo dela fugiu um cachorrinho daquele e que em
Monlevade só existia um exemplar daquela raça, pois ele teve que buscar fora,
e, o rapaz apareceu na Delegacia pra pedir informação justamente com o bendito
cachorrinho no colo.
O
rapaz, por sua vez, disse que estava em sua casa, tranquilamente quando o
cachorrinho chegou lá magrinho, com fome e sede, aí os filhos dele pediram pra
ficar com o bichinho e ele não teve como negar porque era bonitinho mesmo,
chegaram até a dar nome ao cachorrinho.
nosso chefe teve que ser enérgico |
O
suposto dono do cachorro foi chamado imediatamente e se apresentou do Delegado
com diversas fotos do bichinho em sua casa, inclusive uma do filhinho dele
junto, o que comoveu todo mundo. Ao passo que o outro suposto dono se agarrava
ao bichinho e dizia que estava cuidando dele já há quatro meses e a família se
afeiçoou a ele.
Então,
nosso chefe, não querendo ser injusto, fez a seguinte proposta: fica cada um de
um lado do corredor chamando o cachorro, e, fica com ele o que for atendido.
Proposta aceita, vai cada um pra uma ponta do corredor, todos dois seguros que
serão atendidos, mas era necessária uma pessoa neutra, momento em que meu chefe
ordena:
_
Andréa, pegue o cachorrinho e coloque no chão na hora em que eu mandar!
eu tive que segurar o cachorrinho no colo |
Atendi
prontamente e segurei o cachorrinho, que era realmente uma gracinha, até a hora
em que os donos estavam devidamente posicionados e o chefe deu o sinal para que
eu o colocasse no chão.
Nessa
hora ninguém mais trabalhava na Delegacia, todo mundo queria saber do desfecho
do caso do cachorro, e, inclusive tinha cobertura jornalística. Havia um rapaz,
estudante de jornalismo, que dava flashes ao vivo pra rádio em que ele
trabalhava. Uma loucura.
foi uma confusão pra cercar o rapaz na saída |
Os
donos, um em cada ponta do corredor, chamando o bichinho pelo nome que tinha em
sua casa, fazendo gracinhas, assoviando, batendo palmas. Mas, ele não quis ir
com nenhum dos dois, ficou no meio do corredor tremendo de medo coitadinho.
o cachorrinho ficou indeciso |
Meu
chefe coçou o queixo pensativo, mas, o rapaz que chegou com o cachorro na
Delegacia foi mais rápido: correu e pegou o cachorro no colo, dizendo que era
dele. Foi uma correria, minha colega gritando, o primo dela correndo atrás do
rapaz e os agentes cercaram o “elemento”. Acho que isso foi decisivo, nosso
chefe falou de pronto:
_
O rapaz aqui trouxe provas de que o cachorro é dele e vai levar pra casa, podem
tirar e dar pra ele.
a palavra final coube ao chefe |
Gente,
foi preciso uns três agentes pra retirarem o cachorrinho do colo do rapaz que
gritava:
_
Não!!! O que eu vou dizer lá em casa? Os meninos vão chorar, minha mulher vai
me matar...
E
as lágrimas desciam igual de criança, vocês não acreditam, um marmanjão
chorando por causa do cachorro. Ficou todo mundo com dó, aí o dono do cachorro
disse a ele que quando tivesse filhote, um seria dele, já estava prometido. O
rapaz aceitou, não tinha outro jeito. E saiu da Delegacia soluçando e secando
as lágrimas...
E
assim termina o caso do cachorro. Eu juro que é verdade!!!