quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Vilãs

                                                         
Sabe essas vilãs de novela? Quem não se lembra da Odete Roitman, de Vale Tudo; da Flora, de A Favorita; Nazareth, de Senhora do destino, e, a mais famosa no momento, a Clara, de Passione. Elas são meigas, delicadas como uma flor, se fazem de boazinha na frente de todos, mostram as garras para suas vítimas quando acham o momento oportuno, e, quando são desmascaradas se fazem de coitadinhas e injustiçadas. Pois é, elas existem na vida real.
E digo mais, conheço gente assim. É claro que não posso dizer nome nem colocar foto por motivos legais, mesmo tendo como provar tudo o que passei, é possível que eu seja processada por difamação... rs rs rs.
Desculpem a amargura deste texto, para vocês que estão acostumados com o meu bom humor, mas é que fui separada de uma pessoa que amo incondicionalmente por causa de uma maldade muito grande, e, mesmo já se passando tantos anos eu não consigo esquecer porque as feridas não cicatrizam de jeito nenhum. Parece que nesta época do ano nos tornamos mais sensíveis... sei lá.                          
Você que está lendo este texto sabe o que é amor incondicional? É aquele amor que vem da alma, que você sente pela pessoa sem se importar de onde ela venha, o que ela faz ou o que ela seja. Você está do lado daquela pessoa para o que der e vier, você não separa a briga, já chega dando a voadora. Aí é que foi o meu erro...
No momento em que o veneno foi destilado ao objeto do meu amor incondicional, eu cheguei dando a voadora sem dó nem piedade. Sabem o que aconteceu? O mesmo que acontece nas novelas: é claro que na minha inocência de defender quem eu amo não me preocupei em ter testemunhas para o meu ato, e, a vilã se debulhou em lágrimas, saindo vitoriosa, como a pobre vítima da Andréa "arrogante", “impulsiva” e “inconseqüente”. Sabem quem ficou do meu lado? Ninguém. Nem mesmo quem sabia a verdade.
O motivo de escrever este texto em uma época que todos pensam somente em alegria e confraternizações é que justamente a vilã da história teve a coragem de me desejar “Feliz Natal”, para “que meu coração amolecesse”. Não posso dizer o que tive vontade de responder porque também posso ser processada por injúria, e, só aí já seriam dois processos num só texto... putz!
Me desculpem o desabafo meus leitores, mas é que tamanha falsidade mexeu muito comigo, porque fui afastada de uma das pessoas que mais amo e ainda tenho que suportar uma coisa dessas?

Não tenho ódio por essa pessoa, e nem por ninguém, muito pelo contrário, oro por ela todos os dias para que se arrependa do pecado que cometeu ao separar (graças a Deus apenas fisicamente) duas pessoas que se amam acima de tudo, um amor espiritual e limpo, acima das maldades do mundo.

Para encerrar com um pouco de bom humor, vou ilustrar o texto com famosas vilãs de novela. Espero que nenhuma das atrizes me processe pela comparação...

                                   

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O resgate


Não pensem que é um caso sobre alguma experiência de crescimento espiritual ou pessoal. Nada disso, é mais uma abobrinha do meu dia a dia. Aconteceu ontem lá em casa.
Estávamos nós, batendo aquele papo da hora do almoço, com aquele desanimo de segunda-feira, quando escutei um barulho diferente. Nada assustador, parecia um miado de filhote de gato ou de pássaro, sei lá.
Falei então: _ Gente, tem um filhote de gato por aqui.
Meu filho: _ Não tem nada, ficou doida mãe?
Meu pai: _Aonde é que vai ter um filhote de gato por aqui?
Fui pra fora da casa, olhei no lote ao lado, procurei nos arredores da casa e nada. O miado só aumentando e cadê o gato? Fazer o que, né? Fui trabalhar de pois do almoço.
Cheguei do trabalho à tarde e fiquei de bobeira na sala quando o miado começou novamente. Meu pai teve um insight: _ Esse gato está no telhado !!!
Eu pensei alto: _ Mas como um filhote de gato foi parar no telhado gente???
Meu pai levantou de repente:_ Vamos tirar ele de lá agora e já saiu pegando a escada de armar e levando para a varanda enquanto planejava a estratégia.
Saímos eu e minha mãe em disparada atrás dele, cada uma mais histérica do que a outra:_ Ai meu Deus, você vai cair da escada !!!
Minha mãe preocupadíssima: _ Bem, a gente tem que viajar amanhã, você não pode nem pensar em machucar ...
Meu pai assumiu a frente da situação: _Já localizei o bicho, vou ter que desmontar o telhado. Vocês duas me ajudem segurando as telhas que eu tirar.
Eu e minha mãe, as subordinadas, obedecíamos as ordens do comandante, e, enquanto segurávamos a escada (toda enjambrada) para meu pai não cair íamos recolhendo as telhas que ele tirava, entre um grito histérico e outro.
Meu pai desmontou parte do telhado e ficou pra fora, da cintura pra cima, procurando o bicho, até que então: _Tô vendo ele, tá com a cabeça presa embaixo da telha do acabamento do telhado, vou ter que ir mais um pouco.
Mais gritos histéricos das mulheres enquanto ele se esticava para fora do telhado executando a meticulosa operação. Depois de uns três minutos e uns cinco gritos ele voltou heróico segurando um minúsculo filhote de gato em uma das mãos, me entregando o bichinho e parando no alto da escada para recuperar o fôlego para montar o telhado novamente e descer.
Telhado remontado, meu pai em terra firme, para nosso alívio. Então surgiu a pergunta: _E agora, O que a gente faz com ele?
Ficamos os três olhando para aquele gatinho cinza de olhos azuis, com o coraçãozinho disparado e respiração ofegante, sem nenhuma idéia do que fazer agora.
Tive uma idéia: _Amanhã de manhã eu levo para o abrigo de animais que eles arrumam alguém pra adotar. Até lá a gente põe ele numa caixinha e vai cuidando.
Nesse meio tempo meu filho chegou da escola e se juntou a nós, e, eis que surge aquela ternura imediata diante daquela criaturinha mais fofa e inocente. Pronto, ficamos os quatro nos revezando na tentativa de dar leite na boca do filhote, e, por que não, de conversar com ele pra ele não se sentir sozinho. Todos foram dar boa noite ao ilustre sobrevivente antes de dormir... afff...
Hoje de manhã meu pai estava caminhando e ficamos eu e minha mãe tomando café, quando ela disse: _Vou levar o gatinho na loja veterinária, já telefonei pra lá e eles aceitam para doar.
Eu tive que concordar, é melhor levar logo antes que a gente se apegue ao bichinho...
Antes de ir trabalhar eu fui me despedir dele, tirei umas fotos, e, me justifiquei pra ele: _Não podemos ficar com você porque não fica ninguém em casa, mas vamos arrumar alguém muito legal...”. Me dei conta do papel ridículo que estava fazendo, mas, ainda pensava enquanto saía pra trabalhar “se ele fosse ficar que nome eu daria...”.
Cheguei no trabalho e comecei a contar o caso quando a minha colega, Wilma, dá um pulo: _Um gatinho? De que cor? Como ele é? Você vai ficar com ele?
Eu respondi já com saudades do bichinho: _Não, minha mãe vai levar pra loja veterinária doar...
Ela me interrompeu: _Nãããão! Traz pra mim que eu quero. Liga pra sua mãe, não deixa ela levar !!!
Imediatamente telefonei pra minha mãe: _Mãe, arrumei uma mãe adotiva pro nosso gatinho !!!
Eis o grande final: esta que vos escreve, descendo pro trabalho de carro depois do almoço, com uma caixa de sapato contendo um filhote de gato miando desesperadamente dentro, e, conversando com ele “pra não ficar com medo que ia dar tudo certo”.
Cada coisa que acontece...
Tive que registrar o momento da adoção, fazer o que né gente?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Entrevista do Jornal A Notícia (12/11/2010)

Segue texto, sem as perguntas, da entrevista que saiu na edição de hoje do Jornal A Notícia. Espero que possa ter contribuído para a informação do consumidor monlevadense !!! Meus agradecimentos às pessoas da equipe, que foram super atenciosos e estão sempre divulgando o nosso trabalho.



O consumidor deve ficar atento ao produto que está adquirindo: verificar se é aquela marca, tamanho, cor e todas as especificações necessárias para evitar aborrecimentos futuros; Importante também é saber se existe assistência técnica na região, para evitar transtornos com envio de produto para longe; Por fim, mas, importantíssimo, exigir nota fiscal do produto que estiver adquirindo porque ela será o documento comprobatório da compra realizada e é com ela que o consumidor poderá exigir seus direitos; Justamente por isso, o consumidor deve evitar comprar produtos sem procedência comprovada.

As maiores reclamações nesta época de final de ano, com as compras de natal, são os produtos eletrônicos, principalmente celulares e brinquedos, e, eletrodomésticos.

Quando ocorrer um problema, o consumidor deve procurar a empresa primeiro, tanto que existem os SACs, que, de acordo com o Decreto nº 6523/2008, tem que fornecer números gratuitos e estarem disponíveis 24 horas por dia, inclusive aos sábados, domingos e feriados.
O procedimento correto é o seguinte: o consumidor, assim que constatar o defeito no produto ou serviço deve entrar em contato imediatamente com o SAC da empresa fabricante, solicitando o nome do atendente, número de protocolo e prazo para solução do problema; Se após o decorrer do prazo o problema não for solucionado, aí sim o consumidor deve vir ao PROCON, munido de documentos pessoais, nota fiscal do produto e número de protocolo de atendimento do SAC, para comprovar que tentou solucionar com a empresa antes de procurar pelo órgão; Por fim, o PROCON, com cópia dos documentos fornecidos pelo consumidor, vai entrar em contato com a empresa a fim de tentar uma solução mais rápida para o caso.
 
Fora essa época de natal, as principais reclamações registradas aqui no PROCON são relativas a danos em produtos, que do início do ano até a presente data já somam 293. Os produtos mais reclamados são os eletrodomésticos, eletrônicos e celulares. Logo depois dos produtos vem as reclamações sobre serviços essenciais, que já somam 195 este ano. Tais reclamações, em sua maioria são a respeito de serviço de telefonia, principalmente em relação à má prestação e cobrança indevida. E, em terceiro lugar, vêm as reclamações de assuntos financeiros, já somando 189 neste ano, e, em sua maioria são reclamações sobre cartões de crédito (cobranças indevidas) e empréstimos consignados. Depois, bem atrás, as reclamações sobre Serviços Privados, somando 106 até a presente data, destacando-se a intenet como principal serviço reclamado na área. Por último, temos os problemas relacionados à saúde e alimentos, que são bem poucos os registros, apenas 17 neste ano, com a prestação de serviços de planos de saúde em destaque.

Com o advento da tecnologia temos os problemas relacionados a ela consequentemente, e, agora o consumidor tem a praticidade de comprar com um simples clique do mouse, o que pode acarretar muitos transtornos.
Temos muitos registros de reclamações por compras através da internet, sendo pelos motivos de não entrega do produto ou problemas de troca em sua maioria.
É muito importante que o consumidor procure saber se o site em que está comprando é seguro antes de fornecer seus dados pessoais, tais como CPF, RG e número de cartão de crédito. Outro cuidado fundamental é ler sobre a política de troca da empresa para evitar transtornos com o envio da mercadoria.
Cabe ressaltar que o consumidor tem sete dias para arrependimento da compra quando o fizer pela internet ou telefone, a contar da data de recebimento da mercadoria. Isso é diferente de troca por defeito, que cabe ao fabricante e não ao vendedor, o que os consumidores confundem muito. 

Primeiramente, o que falta é informação ao consumidor, um dos direitos básicos estabelecidos pelo artigo 6º da Lei 8078/90, o Código de Defesa do Consumidor, CDC, e, isso dificulta o nosso trabalho. O que ocorre são duas situações: ou o consumidor nos procura antes de procurar a empresa, baseando-se em suposições ou falsa informações correntes no meio popular, ou, o consumidor nos procura depois de estar sofrendo as conseqüências do problema, após todo o prazo decorrido para tentar solucionar.
É importante que o consumidor tenha conhecimento de seus direitos e siga corretamente os passos para alcançá-los.

O nosso PROCON Municipal é limitado ao âmbito administrativo, ou seja, não podemos aplicar sanções às empresas fornecedoras de produtos ou serviços, mas, mesmo com essa limitação conseguimos bastantes progressos depois da instalação do SINDEC em outubro de 2007.
O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, o SINDEC, é um sistema integrado ao Ministério da Justiça e coordenado pelo Ministério Público Estadual, que tem total acesso aos registros de todos os PROCONs do Estado de Minas Gerais, e, dessa forma, cobra mais empenho na busca pelo direito do consumidor, fiscalizando os prazos e metas estabelecidos.
Através do SINDEC existem os Atendimentos Preliminares, que são solucionados através de telefones disponibilizados pelas empresas, as CIPs, que são cartas enviadas com prazo de dez a  trinta dias para resposta, e, por fim, as Reclamações Fundamentadas, que são os processos administrativos com audiência de conciliação entre empresa e consumidor. Cabe ressaltar que todos os registros possuem um número de processo no SINDEC, independente da complexidade do procedimento.
Com o advento do SINDEC as empresas se tornaram mais cautelosas porque  nenhuma quer seu nome relacionado num sistema que indica um “mau fornecedor”, e, passaram a respeitar mais o direito do consumidor, cumprindo suas obrigações dentro dos prazos estabelecidos pela lei. Mas, infelizmente, nem tudo são flores, e, quando chega ao ponto de não obter acordo na audiência de conciliação o PROCON encaminha o consumidor ao Juizado Especial Cível, seja por orientação ou via ofício, pois, como disse antes, nossa atuação se limita na esfera administrativa.
De janeiro até a presente data já foram instaurados 800 procedimentos no PROCON Municipal de João Monlevade, sendo 667 Atendimentos Preliminares e CIPs, e, 133 Reclamações ou Processos Administrativos.

É importante que o consumidor busque saber quais são os seus direitos, através do conhecimento do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8078/90, que é um dispositivo legal pequeno e de fácil entendimento, podendo ser baixado na internet, comprado em livraria e até mesmo ser obtido gratuitamente aqui no PROCON. Como disse antes, a falta de informação dificulta o acesso aos direitos corretamente e, muitas vezes, prejudica o consumidor que toma conhecimento tarde demais, pois, tudo tem um prazo quando se fala em lei sobre direitos e deveres.
Gostaria de enfatizar que quando o consumidor estiver em dúvida nos procure antes de efetuar qualquer aquisição ou contratar um serviço, pois, assim, podemos esclarecer melhor o assunto antes que o problema aconteça.
O PROCON Municipal está à disposição do consumidor que queira tirar dúvidas pelo telefone, através do número 3851-5780, de 07:00 às 17:00h, ou , pessoalmente na Av. Wilson Alvarenga, 911- sala 02- Carneirinhos, de 13:00 às 17:00h.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Casamento na Polícia... vixe!


Este caso é verídico, aconteceu comigo quando trabalhava na Delegacia, e, por isso, os nomes das pessoas e dos lugares são fictícios, para preservar a privacidade dos pobres coitados.
Estava eu, tranqüila na minha salinha de registro de BO, tão confortavelmente instalada naquela decoração harmoniosa com o ambiente policial que me cercava quando, de repente, entra um monte de gente lá dentro.
Foi uma confusão danada, mais de dez pessoas se acotovelando numa salinha de 2 x 2, e, o pior, todos falando ao mesmo tempo, sem me dar chance de perguntar o que estava acontecendo. Foi aí que eu resolvi fazer valer o lugar que eu ocupava e deu um grito só: _ Cala a boca todo mundo agora !!!
Todos se calaram e olharam para mim perplexos, pois, ao que parecia, nem tinham notado a minha presença no local. Foi quando um senhor, daqueles típicos roceiros, tirou o chapéu em sinal de respeito e se aproximou de mim perguntando se podia falar comigo. Eu disse que podia desde que falasse apenas uma pessoa de cada vez. Todos concordaram e ficaram quietos enquanto o senhor que havia tirado o chapéu se aproximou de mim, notei que ele estava de terno. “_Sá qui é dotôra, é essa menina ali ó, minha fia”- o matuto disse apontando para uma adolescente que deveria ter uns quinze anos e tinha um ar arrogante que só vendo- “_ela não respeita mais eu nem minha muié, né mesmo Maria?"- olhando para a esposa que abaixou a cabeça concordando com ele, pedindo a palavra e se aproximando.
Eu pensei em explicar que era apenas estudante de direito, e, que não era doutora, mas a confusão tava tão grande que eu achei melhor ouvir o que eles tinham pra contar e depois, se fosse o caso, encaminhar ao local pertinente.
Mas, voltando ao cenário, a senhorinha se aproximou humildemente da minha mesa, com seu melhor vestido, e disse: “_ óia só dotôra, nóis é lá do Brejo Seco, sabe onde fica?”- balancei a cabeça afirmativamente para abreviar a situação e ela continuou- “somo gente direita e meu marido é um omi trabalhador por dimais, mais essa menina ficou da pá virada deis que conheceu o namoradu”- disse apontando para um jovenzinho que não devia ter mais do que quinze anos também- “_ela pula a janela de noite pra si encontrar com ele, dá má resposta pru pai quandu ele manda faze argum serviço de casa, num tamo aguentano mais dotôra!"
O rapazinho, ao contrário da moça, ficava de cabeça baixa, olhando pra ponta da botina, e, talvez pensando o que seria dele dali por diante. Nisso, um outro casal se aproxima e o homem também tira o chapéu antes de começar a falar. “_óia só dotôra, nóis somo os pais dessi menino e é verdade o que os cumpadi tão dizendo, eis dois só qué sabe di namora dia e noite, ninguém disgruda mais eis, ta difícil porque ele nem qué me ajuda mais nos afazer da roça” – nisso a senhora que estava do lado dele começa a chorar compulsivamente e ele continua – “num adianta chorar agora Eufrázia, eu concordei com o cumpadi João quando a gente teve aquela prosa onti e agora num tem mais jeito".
Eu estava totalmente perdida no meio daquela situação e sem entender o que estava acontecendo, então, resolvi perguntar: "_ o que exatamente vocês desejam de mim?"
De repente, a moça, arrogante como sempre, e o rapazinho, olhando para o bico da botina, foram colocados diante da minha mesa, seus pais se posicionaram aos seus lados e os demais permaneceram em pé atrás deles. O pai da moça, “cumpadi João”, se aproximou da minha mesa e disse solenemente: “_Óia dotôra, eu e meu cumpadi Zé, pai desse rapazinho aí, tivemo uma prosa onti e decidimo que já que eis num disgruda um do outro, é melhor que case di uma veiz antes que aconteça o pior, se é que a senhora me entende. Nóis já aproveito e trouxe os vizinho pra sê as testimunha do casório que a gente já resorve o pobrema aqui mesmo".
Fiquei parada e sem palavras para o que estava acontecendo na minha frente: os “noivos”, que não tinham nem quinze anos, de braços dados, os pais da “noiva”, enfurecidos, do lado dela, os pais do “noivo” do lado dele, enquanto a mãe se desmanchava de tanto chorar e o pai tinha uma atitude resignada diante de tudo. Os “padrinhos” de pé atrás dos “noivos” estavam com suas melhores roupas para a ocasião. Como é que eu ia explicar que não é assim que funciona? Pensei comigo :”Tô ferrada...”
Mas quem me salvou daquela roubada foi justamente a menina arrogante, a ”noiva”, que deu o grito: “_Não adianta fazer o casamento porque que na hora em que perguntar se eu quero vou dizer NÃO, aí eu quero ver!”
Os pais dela se entreolharam, então o pai me perguntou: “_ dotôra, é verdade que tem uma lei que diz que se a pessoa num quiser num pode obrigar ela a casá?”
Sem pestanejar eu respondi:”_ é verdade sim senhor, se ela diz que não, não tem casamento, infelizmente eu não vou poder fazer nada por vocês.” Ufa... Nessa hora eu ouvi as risadinhas abafadas dos meus colegas que estavam no corredor do lado de fora.
Os “padrinhos” foram saindo da sala frustrados e reclamando porque estavam perdendo dia de serviço, enquanto a mãe do “noivo” chorou mais ainda enquanto abraçava e beijava o filho, como quem diz “Tá livre coitado”. Quando os pais da “noiva” iam saindo com ela eu chamei:”_ei, esperem um minuto, quero conversar com vocês três.”
Os três voltaram ressabiados, a menina com aquele nariz e pé, que Deus me livre. Fechei a porta para me certificar que ninguém ia ouvir e disse com voz firme e enérgica enquanto apontava o dedo para o rosto da menina:”_escuta aqui mocinha, você mora com os seus pais, come e dorme porque eles te sustentam e o mínimo que você deve a eles é obediência. Desta vez eu te livrei de casar, mas se seus pais voltarem aqui pra reclamar novamente do seu comportamento, aí eu não vou querer nem saber, não vou livrar sua cara...”
A menina abaixou a cabeça e começou a chorar, e jurou que não ia desobedecer mais aos pais porque ela não queria casar ainda, enquanto os pais olhavam para mim agradecidos, levantaram e foram embora com a filha.
Nunca mais eu tive reclamação de que ela estava desobedecendo aos pais...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Paciência...

Sabem aquela brincadeira que as pessoas fazem dizendo “que quando Deus distribuiu ‘tal coisa’ acabou na vez de fulano”? Então, quando chegou a minha vez acabou a paciência, aliás, acho que já tinha acabado há muito tempo porque não sobrou nem um pouquinho pra mim. Sou extremamente impaciente com tudo e com todos, principalmente quando se trata de perguntas tolas, daquelas óbvias mesmo.
O problema é que junto com a intolerância, ou impaciência, veio a impulsividade e aí é que a coisa desanda de vez. Falo e faço coisas sem pensar. Não é minha culpa, sério, é mais forte do que eu. Quando eu assusto, pronto, já foi. É uma má resposta aqui, um tapa na cara ali, enfim, a minha lista de arrependimentos por coisas que eu disse, ou fiz, é enorme.
Mas nada como o tempo passar e a maturidade chegar para nos mostrar que a vida não é bem como a gente pensa. Com o tempo, fui aprendendo que nem sempre dá certo falar, ou fazer, o que vem na cabeça, pois, tudo tem uma conseqüência, e, no mundo adulto o preço pode ser alto demais, inclusive uma hipertensão que me pegou. Sem contar que passei a analisar o tempo da minha vida que perdi discutindo tantas bobagens, simplesmente para provar que eu estava certa no final.
Então passei a desenvolver técnicas para passar pelas situações estressantes sem sair no prejuízo. Resolvi que não é tão importante perder meu precioso tempo só para provar que estou certa sobre um assunto que nem vai mudar o destino da humanidade. Resolvi também que não vale à pena ter certas reações desastrosas que possam queimar o meu filme depois.
A técnica que mais vem dando certo é a da abstração. É bem simples: quando me vejo no meio de uma situação “daquelas” que eu sei que vou acabar falando, ou fazendo, o que não devo eu me teletransporto para um lugar bem legal e fico só de corpo presente, aí, no final, simplesmente concordo com a pessoa que estava discutindo comigo, pronto.
Como é interessante ver a cara de surpresa da outra parte quando percebe que não vai haver discussão, chega a ser hilário, pois, não era essa a reação que as pessoas estavam acostumadas a ver em mim.
Por favor, não confundam as coisas. Isso não quer dizer que passei a fazer pouco caso da opinião alheia, não mesmo. Respeito todos os pontos de vista que me são fundamentados, nem precisa ser um assunto sério demais, pode ser qualquer bobagem do dia a dia.
Também não pensem que virei um “pastel” de vez. Se é um assunto que eu domino, e, que seja importante, eu exponho o meu ponto de vista e a fundamentação de que estou certa, aí, se a outra parte teimar em brigar, “viajo na maionese” até ela cansar e no final balanço a cabeça.
A versão “Andréa paz e amor” (não resisti ao trocadilho) me trouxe muitos ganhos na qualidade de vida, menos ansiedade, menos inimizades e menos temeridade por parte dos outros. Como dizia meu professor de Direito Administrativo, “não é bom que as pessoas tenham medo da gente porque quem tem medo, conspira”!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Meu momento


As pessoas que me conhecem a pouco tempo acham muito estranho que uma mulher solteira, livre, desimpedida e (quase) independente goste de passar horas no sofá lendo um livro enquanto o mundo gira tão rápido lá fora.
Não fui sempre assim, já gostei de acompanhar o movimento frenético da vida, e muito. Não perdia uma festa, show, balada, qualquer coisa que juntasse gente e fizesse barulho, mas, depois, acabou. Em parte, acho que o fato de eu ter trabalhado numa delegacia de polícia contribuiu um pouco pra isso porque eu passei a conhecer algumas figurinhas não muito bem vindas no meu dia a dia, e, as reconhecia em meio à multidão de qualquer festa. Mas, também veio o fato de que certas diversões perderam a graça para mim. De repente, ficar no meio de uma multidão barulhenta passou a ser algo tedioso e irritante pra mim.
Então cheguei à conclusão que não fazia sentido ficar em meio a um monte de pessoas se empurrando e acotovelando se aquilo não tinha mais a menor graça pra mim. O problema é que as pessoas não entendem e acham um absurdo: “como é que você prefere ficar em casa enquanto o Sucupira “tá” bombando hoje a noite?”, ou “você não gosta de Cavalgada, como assim?”. Às vezes eu me sinto um ET por não gostar de ir aonde todos vão, ou, não gostar do que todos gostam.
O fato é que quando pego um bom livro pra ler eu me transporto para dentro das páginas e me sinto em meio àquela narrativa, imaginando cada personagem e cada lugar descrito. Se for um filme, que eu gosto muito também, analiso a personalidade dos personagens, a atuação de quem os representa, os cenários, a continuidade, fico tensa, tentando descobrir o que há por trás da trama... Isso tudo pra mim é tão divertido quanto os programas acima citados pelos meu conhecidos que me acham estranha. E assim gosto de passar minhas horas de folga, meus finais de semana, feriados, etc.
Costumo dizer aos meus colegas de trabalho que o fim de semana perfeito pra mim é aquele que eu entro em casa na sexta-feira depois do expediente e só saio novamente na segunda-feira cedo para voltar ao batente.
É claro que eu não virei uma eremita, um bicho-do-mato que não admite contato com a civilização... também não é assim gente!
Eu gosto de um churrasquinho de “porta de cozinha”, daqueles que vai uma meia dúzia de conhecidos e ficam como se estivessem em casa, sem frescura nenhuma. Se tiver um violão na roda então, aí é que esqueço da vida. Gosto também de ir ao bar do Joãozinho com meu filho, ou algum amigo (só três pessoas têm este título para mim), ficar conversando fiado enquanto devoramos uma montanha de carne com batata frita... adoro. Como vocês podem ver, abro minhas exceções se valer à pena. 
Outro dia estive conversando com uma amiga, no bar do Joãozinho, e ela me disse o que define minha vida atualmente: estou vivendo um momento muito EU. Aliás, o que me tem feito muito bem.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu, mãe


Sabe quando você é criança, ou adolescente, e sua mãe, ao lhe negar algo lhe diz: “quando você tiver seu filho vai me entender...”? É a mais pura verdade!!!
Aos vinte e um anos eu era uma jovem rebelde e com sede de tudo, talvez mais ainda que na adolescência, e, diga-se de passagem, sem juízo nenhum. Era professora de dança e de educação física em uma pequena cidade das redondezas, com muitos afazeres porque estava chegando o fim do ano letivo e tinha que ensaiar os números da formatura... um corre-corre danado, que eu adorava.
De repente, uma notícia: estava grávida. A primeira sensação foi indescritível quando eu olhei para a minha barriguinha, ainda murcha, e imaginei que tivesse um neném ali dentro, mas, depois, pânico total, o que iria acontecer comigo dali em diante? Minha vida ia mudar?Será que tinha mesmo uma pessoa ali dentro? Eu não sentia nada do que eu via nas novelas, como enjôos, desmaios, tonturas, etc.
Mas um belo dia a ficha caiu: algo se mexeu na minha barriga, como se tivesse um peixinho nadando ali dentro... vixe, tinha um neném ali mesmo. E quando fiz a ultrassonografia não houve mais dúvidas, ele estava lá mesmo, com seu coraçãozinho pulsando forte, suas perninhas se mexendo, seus bracinhos, cabeça, tão bonitinho.
A barriga foi crescendo, o neném também, e, fazendo aquela bagunça lá dentro: empurra costela daqui, chuta pra frente, dá cabeçada. Era muito bom sentir tudo isso. Meus irmãos passaram um feriadão aqui, e, o que estudava medicina me fazia de cobaia, escutando e examinando a barriga o tempo todo, enquanto o outro, olhava o bebê se mexendo e ficava abismado, achando meio “esquisito”, mas era uma farra só!
Enfim, no dia 25 de julho de 1994 nasceu o Mauro, com 3,680Kg e medindo 48cm. Chorando com tanta força que dava pra ouvir até na rua de cima... sério, as vizinhas telefonavam pra minha mãe perguntando se não precisava de ajuda! Eu olhava para aquela coisinha tão pequena e pensava: meu Deus, agora eu tenho alguém que depende de mim!
E realmente minha vida mudou, dividindo-se em antes e depois do Mauro: _nunca imaginei que pudesse amar alguém com tanta intensidade!
Nos seus primeiros três anos de vida decidi me dedicar a ele, dando umas aulinhas poucas só pra não perder tempo de serviço, mas, a maior parte do dia era por conta dele. Vê-lo comer a primeira papinha, aprender a engatinhar, depois andar, dizer a primeira palavra, fazer as gracinhas ao descobrir o mundo... não existe salário no mundo que pague isso.
Tive que voltar a trabalhar, deixando meu pequeno na escolinha com uma dor no coração. Ele chorava lá dentro e eu chorava lá fora, mas, a professora dizia: vai que eu cuido dele. E eu tinha que ir. No primeiro ano me bateu uma culpa danada, tanto que deixei um turno de trabalho, depois, tentei ser autônoma, vendendo roupas, mas não deu certo também. Por fim, voltei às aulas mesmo porque ele já estava com cinco anos e eu podia levá-lo quando quisesse já que não era uma escola convencional, era o Bem Viver.
Infelizmente, digo isso por puro egoísmo, o tempo vai passando sem que a gente perceba, e, de repente, aquele bebezinho frágil começa a virar um menininho cheio de si, que já sabe amarrar o cadarço do tênis sozinho, aí, vem a primeira pontada: ele não precisa mais de mim pra isso.
Depois, aquele menininho se transforma num pré-adolescente que te proíbe de chegar com ele na porta da escola, porque, afinal de contas “o que os outros vão dizer? Que mico...” Isso quando não fecha a porta do quarto para conversar com os amigos às sós, sem interferência de estranhos, que no caso, é você, a mãe. Só não é pior do que encontrar o primeiro bilhetinho de amor  na gaveta dele (não que eu mexesse de propósito), ai que dor no coração!
Aí, vem a tão temida adolescência, terror de todas as mães, quando eles já pensam que são homens mas ainda não são, então, os conflitos. Pra umas coisas ele “já está grande demais”, enquanto para outras “está novo demais”, e, não tem cabeça que dê conta disso. Começa a fase do “depois eu faço”, “agora não” ou “tem que ser agora”, quando é ele quem quer, e, tome conflitos.
As colegas que já são mães de adolescentes dizem que “agora é que você vai perder o seu filho, porque ele não vai querer saber de ficar em casa”, o que dá um medo danado, afinal o mundo é cheio de coisas ruins: drogas, violência, doenças... não, eu não vou deixar que ele vá a lugar nenhum, está decidido. Mas você se dá conta que não tem jeito, ele vai ter que ir, afinal, você não foi?
Então chega o dia da primeira festa de 15 anos de alguma colega de escola. Eu achei que ia ter um ataque de pânico, e quase tive. Enquanto ficava no sofá fingindo que via um filme, pedia: “meu Deus, não deixa que nada de ruim aconteça com meu filho, ele é tudo o que eu tenho”, mas fingia estar distraída com a TV enquanto o coração parecia que ia sair pela boca. Mas sobrevivi até o momento de busca-lo depois da festa, hora que não chegava nunca. Gente, era só uma festa de 15 anos!!!
Mas eu sou uma pessoa de tanta sorte que meu adolescente não tem nada de rebeldia, nem da chatice que tanto dizem por aí, tirando as coisas normais da idade, é claro. Ele gosta de rock antigo, detesta axé, pagode e funk (isso não é tudo de bom?), adora ir comigo no bar do Joãozinho comer carne com batata frita enquanto bebe, sozinho, uma garrafa de 2 litros de coca-cola. Nós passamos horas conversando fiado dentro do quarto, ou na cozinha enquanto faço o almoço de sábado, é claro ao som bem alto de um bom e velho rock & roll. Acrescente-se a isso o fato de que trabalhei com esportes e adoro futebol, o que inclui mais um assunto em comum na nossa pauta. Faço questão de curtir cada momento desses, porque meu filho adolescente é meu amigo, o que é muito raro nessa fase.
Algumas colegas me dizem que sou boba por estar deixando de viver a minha vida para ficar com meu filho, porque “um dia ele vai sair e te deixar sozinha em casa, seja por uma namorada ou grupo de amigos”. Mas eu não ligo, vou curtindo meu filhote enquanto esse dia não chega, porque eu sei que o tempo que tenho com ele só para mim está acabando, pois, como diz a minha mãe: “filho não é da gente, é do mundo”.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A casa do Bem Viver



O ano era 1999, o mês era outubro, e, num encontro informal entre servidores municipais, surgiu no papo da roda de colegas o assunto de que o Programa Bem Viver estava precisando de uma professora de dança e ginástica. Eu disse que essa era a minha área de atuação, momento em que já fui apresentada para a coordenadora do programa e marcamos um encontro para a outra semana.
No início de dezembro eu já estava trabalhando no Bem Viver, como a nova professora de dança e ginástica. Cheguei assustada porque as alunas, meninas de oito a oitenta anos, estavam acostumadas com a outra professora e as comparações eram inevitáveis. Um dia eu consegui mostrar a elas que meu estilo era outro, mas que tinham que experimentar o novo antes de criticar ou rejeitar. Deu certo, fui adotada por elas.
Depois veio a idéia: por que não inserir os meninos na dança? Ah, não ia dar certo, “dança não era coisa pra homem”. Mas com a febre do forró universitário no final dos anos noventa não foi nem um pouco difícil, e, em pouco tempo não tínhamos mais onde colocar tantos meninos que queriam aprender a dançar, foi preciso criar horário extra para atender as demandas. A princípio, eram os adolescentes da comunidade, mas depois, as alunas adultas da ginástica também reivindicaram e levaram até seus maridos para aprender. Fora as alunas da melhor idade que exigiram aprender também no horário de ginástica reservado a elas!
Então aconteceu algo interessante. Em uma conversa séria com minha “chefinha” e a nossa coordenadora geral, elas me chamaram a atenção para uma coisa muito importante: eu não estava ali somente para ensinar dança, mas também para formar cidadãos! Eu ainda não tinha acordado para isso, mas as duas me mostraram que eu tinha nas mãos um instrumento muito forte: a empatia com os alunos de todas as idades, e, poderia usar isso para multiplicar valores na comunidade.
Depois de muitas conversas com a chefinha e a nossa coordenadora geral, que é psiquiatra, enfim, consegui amadurecer e comecei a usar a minha empatia para trabalhar diversos assuntos durante as minhas aulas. O professor de artes e o de capoeira, bem mais maduros e conscientes do que eu, já estavam utilizando seus espaços para trabalhar a cidadania. Não posso deixar de lado a Pe, que tomava conta de todos nós naquela casa e nos defendia como uma leoa caso precisasse. Conheci poucas pessoas com tanta personalidade e consciência sobre cidadania como ela. Foi aí que eu entrei na dança (desculpem o trocadilho, mas não resisti).
Em pouco tempo estávamos entrosados como uma família, e, depois agregamos a estagiária e a outra professora de artes (saudades Quel e Ro), que completaram a nossa trupe. Era comum misturarmos nossos alunos para conversar sobre assuntos da comunidade, ou, algum problema que estivesse afetando alguém em especial.  As mães passaram a nos procurar para pedir ajuda quando tinham problemas com seus filhos e os líderes comunitários passaram a nos ver como parceiros de verdade.
Quando havia alguma apresentação marcada era uma festa, todos ajudavam de alguma maneira: o pessoal da dança e da capoeira ensaiava, as turmas de artes (Re e Ro) cuidavam da decoração, as mães ajudavam nos consertos das roupas, nas maquiagens e nos penteados, e, todos davam alguma idéia para melhorar. Sem contar que Pe comandava tudo com mão de ferro (ai de quem saísse da linha...) e com um coração de ouro (preocupada com todo mundo), sempre ajudada pela Quel, a estagiária, sua fiel escudeira.
De vez em quando surgia a nossa coordenadora, com a chefinha sempre do lado, dizendo “Tô com vontade de inventar moda, isso aqui ta muito parado!”. Aí era aquela correria, vem projeto pra cá, idéia pra lá, palpite acolá, e, no final, surgia um novo acontecimento na comunidade, envolvendo o máximo de pessoas possíveis, é claro.
Era comum acabar o horário de expediente e ficarmos por lá, todos em volta da mesa da cozinha conversando sobre o dia, sobre o futuro, sobre abobrinhas às vezes. Para nós, não era uma obrigação, e sim um prazer passar o dia inteiro ali naquela comunidade que agora nos acolheu de coração. Nós não éramos apenas colegas de trabalho, mas sim a família Bem Viver, e, como toda família, tínhamos divergências de ponto de vista, quebrávamos o pau ali na hora da reunião e no final saía todo mundo rindo e se abraçando de novo.
Foi apenas um ano da minha vida que passei na Casa do Bem Viver (dizem que o que é bom dura pouco), com alegrias, tristezas, brigas, reconciliações, confraternizações, palestras, oficinas, cursos, festivais de férias, etc, Mas vão valer para o resto da minha vida porque foi ali que eu aprendi a ser gente de verdade. Aprendi que dar aulas é muito mais do que repassar simples conhecimentos técnicos, mas, sim, formar cidadãos conscientes de seu espaço, de sua cultura e de sua dignidade.
A roda da vida girou muito durante os dez anos que se passaram, mas, repito aqui o que disse no meu convite de formatura em Direito: _ Muito obrigada aos amigos do Bem Viver, por me ensinarem a cidadania !

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mulher brava... ou não ?



Quando eu era criança, parece que foi ontem, sempre fui a menina-macho: adorava brincar de correr na rua, soltar pipa, apostar corrida de bicicleta, sem esquecer os tapas que já dei em muito menino na escola, mas, minha mãe, sempre vigilante, me repreendia:" _ Isso não é para menina!". E tome bonecas e panelinhas de presente... até mesmo aula de balé clássico e curso de modelo e manequim (na época era a moda), pra ver se ficava mais feminina. 
Mas, nada disso adiantou. Sou grande, falo alto, sou espalhafatosa e saio derrubando e/ou tropeçando em tudo o que tem pela minha frente (acho que até hoje não me situei no espaço que ocupo), e, não teria nada que pudesse mudar a minha natureza, então, minha mãe desistiu.
Quando chegou a adolescência, com quase 1,80 de altura, descobri o vôlei e basquete, então, eu realmente me realizava: meu espírito guerreiro aflorava e dava pra descarregar as energias, leia-se agressividade, numa boa, mas, é óbvio que de vez em quando dava uma escorregada fora das regras porque ninguém é de ferro. Desta vez, o fato de não ser uma menininha frágil me dava vantagem sobre as demais... era a minha vez !!!
Chegou a vida adulta e com ela muitas atribuições, como ser mãe, por exemplo. Mas não tive muitas dificuldades nesta tarefa porque, afinal de contas, todos dizem que sou muito “rigorosa e exigente”, e, meu filho é um amor de pessoa que nem se compara comigo quando tinha a idade dele. E pra melhorar a situação, gostamos dos mesmos esportes e músicas, o que rende assunto pra muita conversa fiada entre nós enquanto comemos uma carne feita no bafo.
Também era hora de trabalhar, e, quando dava aulas, meus alunos me obedeciam sem pestanejar, porque “a professora era brava demais”. Na minha experiência como escrivã não tive dificuldade nenhuma, principalmente quando me levantava para receber a pessoa que entrava em minha sala era engraçado vê-los olhar para cima.
Na profissão que escolhi o meu grande porte e fala altiva me ajudam bastante também, pois, no conhecimento popular “advogada tem que ser brava”. Já flagrei alguns dos clientes da assistência gratuita (o único meio pelo qual aceitei advogar) que adoravam me exibir aos seus desafetos no fórum, mostrando de longe “aquela é a minha advogada, vem pra você ver!”.
Em todos os lugares que trabalhei e frenquetei sempre era aquela que ouve confissões e dá conselhos; aquela que ajuda a resolver os conflitos; a colega que sempre tinha uma resposta pronta pra tudo; a funcionária que procurava solucionar problemas rapidamente; a pessoa de gênio forte que “era melhor não mexer”; a aluna que representava a turma na diretoria da faculdade, a vizinha que espanta a meninada só de aparecer na varanda, a mãe “legal” da turma que entende de futebol e gosta de rock...
Tudo bem, gostaria de aproveitar o momento e fazer algumas confissões:
- morro de medo de insetos de qualquer espécie, não tenho coragem nem de jogar o chinelo de longe para matá-los;
- não sei trocar pneus, botijão de gás, lâmpada, chuveiro, e, nem tenho vontade de aprender;
- não tenho respostas para tudo que me perguntam, apesar de fazer cara de pensativa na hora;
- adooooro cor-de-rosa em tudo: roupa, sapato, bolsas, acessórios, cadernos... o meu blog !!!
- choro assistindo filmes, último capítulo de novela ou lendo livros tristes;
- li toda a série Crepúsculo, adorei de montão, e, sou apaixonada pelo Jacob (o lobisomem);
- tenho medo de ficar sozinha em casa, principalmente à noite quando escuto barulhos por todos os lados;
- sou viciada em perfumes, cremes hidratantes e sabonetes de toda a espécie;
- tenho medo de perder meu “filhinho” para a primeira “coisinha qualquer” que aparecer;
- já chorei no travesseiro, ou debaixo do chuveiro, por um amor impossível;
Enfim, também sou “mulherzinha” de vez em quando... mas, é claro que faço tudo isso escondido, porque, afinal de contas eu tenho que manter a minha fama de BRAVA !!!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Vocação X Profissão

Minha vida profissional, digamos assim, começou cedo: aos 15 anos trabalhei como balconista de uma lanchonete, limpando, fritando salgados, atendendo clientes, ah, tudo isso ao mesmo tempo. Mas aí, meus pais acharam muito pesado porque eu estava ainda no primeiro ano do ensino médio, então, procurei outro, e, depois de trabalhar numa ótica (do meu tio), fui parar numa fábrica de produtos de cimento e por fim numa pré-escola, aí já estava no terceiro ano.
A tal da "escolinha" era a coisa mais linda e fofa... no início! Passado alguns dias, eu chegava em casa como se estivesse vindo de uma guerra: era o dia inteiro de correria, cocô, xixi, vômito, tinta guache sendo arremessada, massinha sendo comida, cabelo sendo puxado, e, lindas mamães no fim do dia questionando porque a roupa do filho estava suja. Bastava. Não era isso que eu queria pra mim!
Eu sabia do que gostava: pessoas e esportes. Então começaram as oportunidades de trabalhar com crianças maiores e adolescentes. Aí sim, era muito bom. Com meus dezenove anos já dava aulas na rede pública municipal e tinha alunos bem maiores, e mais velhos, do que eu, e, quando tinha porteiro novo na escola ele me barrava achando que eu era aluna chegando atrasada... adoooro lembrar disso !
Também encontrei meu espaço na dança, que lecionei com muito amor: dança de salão (a febre do forró foi demais), dança afro (adoro a representação dos elementos da natureza), e, teve também a moda da aerodance (mistura de ginástica e dança). Era uma delícia ficar o dia inteiro ensinando dança para crianças e adolescentes de uma comunidade que realmente me ensinou a ser gente de verdade com amor ao próximo, solidariedade, cooperação, mutirão de limpeza e construção (era um barato). Não chegava a considerar uma obrigação, de tão prazeroso que era passar até doze horas por dia no meio de tanta energia boa!
Paralelamente a tudo isso eu fazia arbitragem. Sim, apitava jogos de basquete e futsal, além de ser apontadora (mesária) nos outros esportes especializados. Fiz cursos da federação e era da Liga de Futebol da cidade. Com muito orgulho, fui a primeira mulher a fazer parte, eu me achava o máximo por isso. Foram muitas viagens para trabalhar em torneios e campeonatos. Passei muito aperto correndo de jogadores nervosos, mas, quem tá na chuva é pra se molhar, faz parte!
Mas a vida, às vezes, vai tomando rumos inesperados, e, de repente, me vi, talvez por retaliação ideológica, trabalhando dentro de uma delegacia de polícia. Nunca vou me esquecer da cara do delegado olhando para o meu currículo (totalmente voltado para área de esportes) e se perguntando "o que faria comigo ali". Primeiro, já que não tinha nenhuma experiência em trabalho administrativo, a tão temida portaria, que era o castigo mais detestado por todos que passavam por ali: atender telefone, atender público, receber BOs que chegavam a toda hora... ufa, uma loucura! Depois, com o interesse e a experiência, veio a nomeação para escrivã, e, em meio a tantos inquéritos, e a administração carcerária, documentos que envolviam a vida e o destino de pessoas, veio o interesse pelo Direito. 
Foram cinco sofridos anos de faculdade após um longos dias de trabalho, às vezes sem ter tempo de comer ou tomar banho, deixando meu filho, ainda pequeno, em casa. Muitas vezes ele pedia que eu não fosse para a aula. Os sábados e domingos eram dedicados para trabalhos e estudos, além da minhas obrigações normais de casa, então tive que abandonar a arbitragem, com grande pesar. Mas quando olho para o meu diploma e minha carteira da ordem, sinto que valeu a pena.
Enfim, a oportunidade para trabalhar no tão sonhado Direito. Deixei para trás amigos, que nunca vou esquecer, afinal foram oito anos de delegacia, mas eu tinha que ir atrás do meu sonho. E veio da melhor maneira possível: atuando na assistência jurídica de pessoas carentes financeiramente, o que me deu oportunidade de aprender o que realmente era o Direito na prática, e, de crescer muito como ser humano vivenciando aquelas situações tão peculiares. Nunca um caso era igual ao outro.
Mas a roda da vida continuou a girar e vim parar em outro ramo da minha profissão: as relações de consumo.  Tudo diferente de novo. Os pedidos são para "ontem", pessoas chegam nervosas, estressadas porque já chegaram no seu limite de tolerância e não conseguiram uma solução, então, os "superpoderosos" da equipe tem que resolver na mesma hora, senão "_vou na imprensa e nos seus superiores..." Sem contar que qualquer notícia relacionada que a mídia divulga num dia, no dia seguinte chove gente querendo que eu já saiba tudo de pronto. A cada dia um novo desafio a vencer, é disso que eu gosto!
O importante é que continuo trabalhando com pessoas, mesmo que seja de maneira bem diferente de quando comecei lá pela adolescência, pois, se antes trabalhava o corpo, agora trabalho com vidas, destinos, solução de problemas. É pena que o esporte tenha se reduzido a uma esporádica caminhada quando o cansaço deixa, e, à torcida pelo meu filho que agora é atleta.
O interessante de tudo isso é ver como a vida muda e o mundo gira, às vezes rápido, e outras, lento, e, o que a princípio seria um castigo, trouxe a descoberta de uma vocação, não, eu diria de uma paixão. Eu aprendi que é preciso saber esperar porque tudo tem a sua hora de acontecer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Por que um blog ?



Eu já me peguei, por várias vezes, me perguntando "por que todo mundo tem um blog hoje em dia?" Hoje, quando acordei, tive a minha resposta: preciso de um lugar para desabafar, pensar por escrito, falar abobrinhas, expor minhas tristezas, minhas alegrias, minhas dúvidas. E do jeito que  o mundo está, nas loucuras do cotidiano enquanto corremos atrás dos nossos interesses e do pão de cada dia, somente um blog para compartilhar todo esse turbilhão que estou vivendo !
Minha intenção não é discutir ideologias filosóficas, políticas, religiosas... nada de muito complicado. Quero apenas ter um espaço para contar o que sinto e compartilhar com pessoas que passam pelo mesmo problema que eu: falta de tempo, ou de ânimo, para sentar e conversar !
Então, que tal um espaço para falar sobre coisas simples e normais pelas quais todos passam? 
Conto com vocês !!!