quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu, mãe


Sabe quando você é criança, ou adolescente, e sua mãe, ao lhe negar algo lhe diz: “quando você tiver seu filho vai me entender...”? É a mais pura verdade!!!
Aos vinte e um anos eu era uma jovem rebelde e com sede de tudo, talvez mais ainda que na adolescência, e, diga-se de passagem, sem juízo nenhum. Era professora de dança e de educação física em uma pequena cidade das redondezas, com muitos afazeres porque estava chegando o fim do ano letivo e tinha que ensaiar os números da formatura... um corre-corre danado, que eu adorava.
De repente, uma notícia: estava grávida. A primeira sensação foi indescritível quando eu olhei para a minha barriguinha, ainda murcha, e imaginei que tivesse um neném ali dentro, mas, depois, pânico total, o que iria acontecer comigo dali em diante? Minha vida ia mudar?Será que tinha mesmo uma pessoa ali dentro? Eu não sentia nada do que eu via nas novelas, como enjôos, desmaios, tonturas, etc.
Mas um belo dia a ficha caiu: algo se mexeu na minha barriga, como se tivesse um peixinho nadando ali dentro... vixe, tinha um neném ali mesmo. E quando fiz a ultrassonografia não houve mais dúvidas, ele estava lá mesmo, com seu coraçãozinho pulsando forte, suas perninhas se mexendo, seus bracinhos, cabeça, tão bonitinho.
A barriga foi crescendo, o neném também, e, fazendo aquela bagunça lá dentro: empurra costela daqui, chuta pra frente, dá cabeçada. Era muito bom sentir tudo isso. Meus irmãos passaram um feriadão aqui, e, o que estudava medicina me fazia de cobaia, escutando e examinando a barriga o tempo todo, enquanto o outro, olhava o bebê se mexendo e ficava abismado, achando meio “esquisito”, mas era uma farra só!
Enfim, no dia 25 de julho de 1994 nasceu o Mauro, com 3,680Kg e medindo 48cm. Chorando com tanta força que dava pra ouvir até na rua de cima... sério, as vizinhas telefonavam pra minha mãe perguntando se não precisava de ajuda! Eu olhava para aquela coisinha tão pequena e pensava: meu Deus, agora eu tenho alguém que depende de mim!
E realmente minha vida mudou, dividindo-se em antes e depois do Mauro: _nunca imaginei que pudesse amar alguém com tanta intensidade!
Nos seus primeiros três anos de vida decidi me dedicar a ele, dando umas aulinhas poucas só pra não perder tempo de serviço, mas, a maior parte do dia era por conta dele. Vê-lo comer a primeira papinha, aprender a engatinhar, depois andar, dizer a primeira palavra, fazer as gracinhas ao descobrir o mundo... não existe salário no mundo que pague isso.
Tive que voltar a trabalhar, deixando meu pequeno na escolinha com uma dor no coração. Ele chorava lá dentro e eu chorava lá fora, mas, a professora dizia: vai que eu cuido dele. E eu tinha que ir. No primeiro ano me bateu uma culpa danada, tanto que deixei um turno de trabalho, depois, tentei ser autônoma, vendendo roupas, mas não deu certo também. Por fim, voltei às aulas mesmo porque ele já estava com cinco anos e eu podia levá-lo quando quisesse já que não era uma escola convencional, era o Bem Viver.
Infelizmente, digo isso por puro egoísmo, o tempo vai passando sem que a gente perceba, e, de repente, aquele bebezinho frágil começa a virar um menininho cheio de si, que já sabe amarrar o cadarço do tênis sozinho, aí, vem a primeira pontada: ele não precisa mais de mim pra isso.
Depois, aquele menininho se transforma num pré-adolescente que te proíbe de chegar com ele na porta da escola, porque, afinal de contas “o que os outros vão dizer? Que mico...” Isso quando não fecha a porta do quarto para conversar com os amigos às sós, sem interferência de estranhos, que no caso, é você, a mãe. Só não é pior do que encontrar o primeiro bilhetinho de amor  na gaveta dele (não que eu mexesse de propósito), ai que dor no coração!
Aí, vem a tão temida adolescência, terror de todas as mães, quando eles já pensam que são homens mas ainda não são, então, os conflitos. Pra umas coisas ele “já está grande demais”, enquanto para outras “está novo demais”, e, não tem cabeça que dê conta disso. Começa a fase do “depois eu faço”, “agora não” ou “tem que ser agora”, quando é ele quem quer, e, tome conflitos.
As colegas que já são mães de adolescentes dizem que “agora é que você vai perder o seu filho, porque ele não vai querer saber de ficar em casa”, o que dá um medo danado, afinal o mundo é cheio de coisas ruins: drogas, violência, doenças... não, eu não vou deixar que ele vá a lugar nenhum, está decidido. Mas você se dá conta que não tem jeito, ele vai ter que ir, afinal, você não foi?
Então chega o dia da primeira festa de 15 anos de alguma colega de escola. Eu achei que ia ter um ataque de pânico, e quase tive. Enquanto ficava no sofá fingindo que via um filme, pedia: “meu Deus, não deixa que nada de ruim aconteça com meu filho, ele é tudo o que eu tenho”, mas fingia estar distraída com a TV enquanto o coração parecia que ia sair pela boca. Mas sobrevivi até o momento de busca-lo depois da festa, hora que não chegava nunca. Gente, era só uma festa de 15 anos!!!
Mas eu sou uma pessoa de tanta sorte que meu adolescente não tem nada de rebeldia, nem da chatice que tanto dizem por aí, tirando as coisas normais da idade, é claro. Ele gosta de rock antigo, detesta axé, pagode e funk (isso não é tudo de bom?), adora ir comigo no bar do Joãozinho comer carne com batata frita enquanto bebe, sozinho, uma garrafa de 2 litros de coca-cola. Nós passamos horas conversando fiado dentro do quarto, ou na cozinha enquanto faço o almoço de sábado, é claro ao som bem alto de um bom e velho rock & roll. Acrescente-se a isso o fato de que trabalhei com esportes e adoro futebol, o que inclui mais um assunto em comum na nossa pauta. Faço questão de curtir cada momento desses, porque meu filho adolescente é meu amigo, o que é muito raro nessa fase.
Algumas colegas me dizem que sou boba por estar deixando de viver a minha vida para ficar com meu filho, porque “um dia ele vai sair e te deixar sozinha em casa, seja por uma namorada ou grupo de amigos”. Mas eu não ligo, vou curtindo meu filhote enquanto esse dia não chega, porque eu sei que o tempo que tenho com ele só para mim está acabando, pois, como diz a minha mãe: “filho não é da gente, é do mundo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário