Na época em que trabalhava na delegacia, estava fazendo faculdade, e, a verba era escassa, de modo que qualquer jeito de economizar estava valendo. Um deles, o mais usado, era a carona, e, o nosso motorista mais generoso era o “Seu” Zé Newton, figuraça gente boa qualquer tanto.
“Seu” Zé Newton ficava esperando chegar o horário do pessoal que saía as 11:00h pra almoçar e nos dava carona até o centro da cidade, onde ele virava o carro e parava a fim de prosear com um amigo dele. Eu era a primeira da fila porque o local onde ele virava o carro era pertinho da minha casa... moleza!!!
Um belo dia estava eu com uma blusinha nova, um modelito tricotado em rosa e branco com um capuz muito singelo, uma graça só. “Seu” Zé Newton estava de Brasília, uma que ele usava para ir à roça, e, o carro tinha um daqueles bagageiros em cima, uma belezura.
Como sempre ele esperou o pessoal das onze sair e eu, toda serelepe, quis ir na frente “já que eu ia descer primeiro”. No banco de trás foram dois amigos dele, incluindo o Chiquinho, chegado gente boa também.
Chegando no sinal de trânsito onde ele sempre parava para eu descer, mas que depressa eu dei um pulo pra fora do carro e bati a porta. O problema é que o capuz da minha blusinha nova agarrou no bagageiro da Brasília e eu só percebi quando ele arrancou o carro.
Agora imaginem a cena: uma Brasília arrancando no sinal de trânsito com uma mulher “enganchada” nela, correndo atrás e gritando “espera aí Seu Zé...”. Alguns metros depois a porta do carro abriu e uma mão me puxou pra dentro, era o Chiquinho me resgatando.
Eu caí sentada na mesmo banco em que estava antes, até roxa de nervosa, e, ”Seu” Zé deu um pulo de susto perguntando: “Que ‘cê’ tá fazendo aqui de novo menina?”. O Chiquinho, em meio a muita risada respondeu: “Ô Zé, ela tava agarrada no bagageiro e você ‘tava’ arrastando ela pela rua afora e nem viu!”.
“Seu” Zé encostou o carro no meio fio mais próximo que havia e abaixou a cabeça no volante, dando uns espasmos com o corpo. Eu fiquei preocupada pensando que o susto pudesse ter causado algum mal a ele e o cutuquei pra saber o que estava acontecendo. Quando o danado levanta a cabeça, estava até sem ar de tanto que ria e lágrimas escorriam pelos olhos dele também. O Chiquinho teve até que abanar pro ar voltar, de tanto que ele ria de mim.
O pior vocês não acreditam. No aniversário dele eu fui levada de mesa em mesa sendo apresentada para a família como “a moça que ficou ‘garrada’ no bagageiro”. Todo mundo sabia do caso e disparavam a rir da minha cara quando ele contava a versão dele!!!
Sábado desses me encontro com ele e a família num restaurante e adivinha o que ele lembrou? “Gente essa é aquela menina que ficou agarrada no bagageiro da minha Brasília”... e nova sessão de risos.
Uma peça esse “Seu” Zé, nosso Inspetor, com uma cara de bravo mas um coração de manteiga, morro de saudades dele, de vez em quando vou contar outros casos dele por aqui.
Beijão Seu Zé !!!
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