Todas
as histórias que eu conto aqui são verídicas e eu sou a protagonista, mesmo que
as vezes subjetivamente. A história que eu vou contar hoje é verídica também,
porém, não sou a protagonista, mas poderia ter sido eu, você, seus filhos ou
qualquer um.
Era
uma vez, em Vitória/ES, uma menina de oito anos chamada Aracelli, uma criança
como qualquer outra, que estudava, gostava de correr, brincar, mas, com um
diferencial: sua beleza. Aracelli era muito bonita e seu corpo era “de menina-moça”,
como disse sua professora à época dos fatos. Sua beleza acentuada chamava a
atenção de todos e despertou a cobiça de dois adultos.
Esses
rapazes eram conhecidos playboys da cidade, filhos de famílias abastadas,
possuíam carros da moda e viviam a vida intensamente, como se não houvesse
amanhã. Também eram muito bonitos e simpáticos na época, sempre acompanhados de
belas mulheres na noite capixaba.
Os
rapazes começaram a se aproximar de Aracelli na porta de sua escola, fazendo
amizade, oferecendo presentes, até conquistar a simpatia e confiança da menina.
Um
dia, 18 de maio de 1973, a mãe de Aracelli enviou um bilhete à escola pedindo
que autorizasse a saída de sua filha antes do horário normal, e, a diretora,
conhecendo a pessoa, acatou o pedido e deixou que a menina saísse mais cedo.
Aracelli saiu e sentou-se em uma lanchonete próxima ao ponto de ônibus, para
aguardar seu transporte passar.
Um
dos rapazes parou seu carro em frente a
lanchonete e chamou Aracelli, dizendo a ela para “ir no carro do tio”, que ele
levaria a menina em casa. A menina, que já o conhecia e confiava nele, entrou
no carro, pois afinal era uma “tio legal que lhe dava presentes”. Foi a última
vez que ela foi vista com vida.
Seu
corpo foi encontrado, dias depois, em um matagal, com marcas de espancamento,
mordidas, violência sexual, e, ácido.Testemunhas
contaram que no dia 18 de maio Aracelli foi vista, ainda com vida, tomando um
sorvete no restaurante de propriedade do “tio” que a buscou na escola, afinal
tratava-se de um lugar badalado na época, que, inclusive, saía nas colunas
sociais.
Outra
testemunha informou que a menina estava sendo mantida no sótão do restaurante,
e, que era “visitada” pelos dois rapazes que se aproximaram dela.
Uma
outra testemunha afirmou que foi procurada pelos rapazes, que estavam com a
menina no carro, e pediram sua ajuda para leva-la ao hospital, pois, segundo os
mesmos, “fizeram besteira”. Ainda segundo esta testemunha, a menina já estava
morta e não havia mais o que fazer.
Diante
de todo o alarde, os rapazes foram indiciados pela polícia e levados a
julgamento. Houve uma comoção social
muito grande na época, com pessoas na rua pedindo justiça, dentro do possível,
pois ainda estávamos na ditadura militar.
O
final dessa história?
Algumas
testemunhas mudaram o depoimento, afirmando “não terem visto e não saberem de
nada”, e, outras “apareceram mortas” como que por mágica.
Os
rapazes?
Foram
absolvidos por falta de provas e continuaram suas tranquilas vidas de filhos de
grandes empresários e playboys da cidade.
A
família de Aracelli?
Perdeu
sua filha e nunca mais puderam ver seu sorriso, ouvir sua voz e vê-la
crescendo.
A
história é chocante?
Sim,
e muito. Mas que sirva de alerta para todos nós que amamos crianças e
adolescentes, mesmo que não sejam de nossa família, pois, criminosos também são
bonitos e simpáticos.
No
ano de 2000 o Governo Federal instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e
Exploração Sexual Infantil e escolheu o dia 18 de maio para marcar a data, como
uma menção ao “Caso Aracelli”, para que casos como esse não aconteçam mais.
Apesar
de ter sido preciso a criação de uma data especial para a campanha, o combate
ao abuso e exploração sexual deve ser todo dia, observando, denunciando, pois,
como eu disse no início, poderia ter sido com qualquer um de nós.
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