Era uma vez Maria, que se trabalhava na mesma empresa há 24 anos, sendo
terceirizada para uma outra empresa bem maior, há dezesseis anos. Maria teve
seu primeiro registro de Carteira de trabalho nesta empresa que a terceirizou aos 19 anos,
depois de trabalhar em diversos subempregos desde os 16 anos.
Maria gostava do que fazia na empresa em que trabalhava terceirizada, se
orgulhava de que seus Chefes diretos sempre a elogiaram, dizendo que ela levava
a empresa mais a sério do que alguns empregados da própria empresa, “vestia a
camisa mesmo”, como diziam.
Sua chefe de setor saiu de férias, uma pena, pessoa
experiente, equilibrada, competente, mas enfim, todos têm direito a um descanso
não é? Foi nomeado um Chefe de Setor Interino, que antes era colega de trabalho
de Maria, o que a fez sentir-se feliz, porque eram muito unidos, sempre se
ajudando, tirando dúvidas, atendendo pessoas quando um não podia, enfim, pensou
que essa união continuaria neste período.
Ocorreu que foi necessário um remanejamento de salas e, Maria, sempre
foi uma pessoa de alto astral, não gostava de tristeza, principalmente no
ambiente de trabalho. Quando viu que sua nova sala teria um pedaço de vidro a
ser coberto, logo pensou “vou colocar algo alegre, pois as pessoas sempre
chegam para o atendimento com problemas e talvez isso amenize um pouco a
situação”.
Maria gostava de alto astral ao seu redor |
Qual foi a sua surpresa quando o Chefe de Setor Interino, no quinto dia
do exercício de sua função, adentrou a sala de Maria, sem pedir licença,
falando em tom arrogante, como se nem a conhecesse “que estavam havendo
reclamações sobre o papel que estava no vidro da sala e que era para ser
retirado imediatamente. Que fossem colocadas cartolinas brancas para tampar o
vidro”, jogando cartolinas em cima de sua mesa.
Maria assustou-se e perguntou “quem estava reclamando”, temendo ser
algum dos superiores, momento em que ele respondeu “que alguns usuários da
empresa estavam rindo e ridicularizando a empresa e que aquela era uma empresa
séria”. Maria ainda perguntou “Por que tudo aqui tem que ser feio, quebrado,
sujo?”, ele, num tom de voz mais alto e mais arrogante respondeu: “Não
interessa, você não está levando essa empresa a sério, você está
ridicularizando a empresa, eu quero esse papel retirado hoje e pronto!”
Maria, mesmo não concordando com o ponto de vista dele e sentindo-se
humilhada, porque tudo isso foi dito na presença de colegas de trabalho e de
usuários da empresa, passou mais de uma hora emendando cartolinas. Depois pensou, todos que chegam
aqui, chegam com um problema pra resolver, e nem sempre conseguem, vou escrever
uma frase que gosto muito, do Filósofo Friedrich
Nietzche, “Aquilo que não me mata, só me fortalece”. As vezes é do sofrimento
que tiramos força para crescer, assim pensava Maria.
Maria também gosta de Filosofia |
Qual a surpresa de Maria ao chegar no trabalho na segunda-feira e
encontrar sua sala violada e as cartolinas arrancadas. Resolveu então procurar
o Diretor Geral da empresa e narrar todo o ocorrido. Ele lhe atendeu muito bem,
foi muito educado com ela, ouviu tudo o que ela tinha para contar. No final
disse que conversaria com o Chefe de Setor Interino, pois realmente ele não
poderia ter feito isso, mas, que será que Maria não estava muito estressada,
nervosa, precisando, talvez descansar um pouco?
Maria é pessoa instruída, sabe que foi vítima de Assédio Moral por parte
do seu Chefe de Setor Interino e poderia denunciá-lo na Ouvidoria da Empresa.
Mas sabe também que apesar das várias “amizades” que fez na empresa, ela não é
um deles, é uma terceirizada, e, se fizer isso, será hostilizada pelos “colegas,
o
corporativismo fala mais alto, e provavelmente colocada a disposição da
Empresa que a terceirizou.Quantas Marias choram por aí? |
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