segunda-feira, 23 de abril de 2012

A serenata


Adolescência: vivendo no limite!!!
Adolescência. Época de muita intensidade. Vivi a minha ao máximo.
Me apaixonei por um rapaz e jurava que era para sempre. Ele era o sentido da minha vida. Passava horas e horas escrevendo o nome dele em uma folha de caderno, só pra depois ficar lendo e suspirando. Ah, que tempo bom.  Minha maior preocupação na vida era se “ele” ia olhar pra mim e se apaixonar como eu. 
Me apaixonava pra sempre!!!
Mas o grande problema dos apaixonados é que ficam cegos. Não percebem que ao seu lado tem uma pessoa tão apaixonada por que seria capaz de fazer as mesmas bobeiras que você faz pelo outro que não estava nem aí.
Mas e se não for ele???
Aí é que começa a confusão: você está apaixonada por uma pessoa, mas, outra pessoa está apaixonada por você, sendo que eles são amigos. Isso tudo, quando se tem quinze anos de idade é praticamente uma tragédia grega! 
Uma bela noite estava eu deitada em minha caminha, suspirando e sonhando com o meu amado quando, de repente, um som diferente invade meu sono. Era música. Ao vivo. Embaixo da minha janela. Que isso?
Levantei correndo e abri a janela quando me deparo com um grupo de rapazes conhecidos cantando músicas românticas da época. Meu cabelo estava uma vassoura (não existia escova progressiva) e eu estava vestindo um pijama de flanela feito pela minha avó, mas nem liguei.
Serenata era tudo de bom!!!

Ele estava lá, o objeto do meu amor. Debulhei-me em lágrimas quando vi que um deles segurava uma rosa vermelha, leu uma poesia e se preparava pra escalar o muro da minha casa (o que não é brincadeira porque é o equivalente a dois andares pra chegar à minha janela). Na mesma hora gritei o nome do meu amado, para que fosse ele que me entregasse a rosa. Ele veio sem jeito, achei que era medo de cair do muro, me entregou a rosa e deu um beijinho.
Receber a declaração de amor... de quem???
Enquanto ele começava a empreitada para descer do muro eu notei que estava acontecendo um tumulto entre os participantes da serenata. Um deles debandou e foi embora reclamando e xingando os outros. Era o que estava com a rosa antes. Naquele momento minha ficha caiu: era ele que havia planejado tudo e ia se declarar e me entregar a rosa... putz.
Fiquei sabendo que ele, o outro, havia escrito a poesia especialmente para a ocasião. Um deles convenceu o pai a emprestar o carro para o transporte da galera, que não era pouca, pois, naquela época a lotação do veículo era “quantos coubessem”. Funcionava assim: um tocava violão, outro tocava flauta e o “resto” era vocal, incluindo o motorista.
Fui objeto de amor não correspondido... afff
E como é que se faz quando encontra depois? Éramos todos da mesma turma e freqüentávamos os mesmos lugares. Adotei a postura de “não sei de nada” e fui levando como se realmente não soubesse de absolutamente nada. Melhor assim, já que éramos (e somos) amigos e eu não queria perder a amizade. Mas eu me senti a menina mais especial do mundo. Dois amigos gostando de mim. Como se diz hoje em dia eu tava “me achando”!
Uma turma de amigos legais não tem preço!!!

O engraçado é que não fiquei com nenhum dos dois. A vida seguiu, passaram-se mais de vinte anos (um pouco mais) e cada um tomou um rumo diferente na vida. Me encontrei com um dos participantes da serenata outro dia e nós dois morremos de rir do drama que foi a situação na época: amores não correspondidos, amizades abaladas...
É uma pena que não existe mais nada disso. 
Adolescência agora é on line!!!
Não se fazem mais amores adolescentes como antigamente. Hoje o que acontece é compartilhar uma foto ou curtir um status na rede social como prova máxima de amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário